Eu já tive sonhos grandes
Um desabafo sobre não ter mais sonhos e se desiludir com a esperança
As vezes me sinto em um banho tão profundo com a lucidez, que me sinto não esclarecida, mas cética. Ao ouvir sonhos grandiosos e bonitos, eu reviro os olhos e penso: “Quais as chances de isso acontecer?”. Perdi tanto a esperança em meus próprios sonhos que me tornei desiludida até mesmo com os das outras pessoas. Não sabia que esse seria o meu destino. Sozinha com meus próprios desapegos e com uma caneta na mão. Perdoem se os chateio com esse texto, se os torno sem convicção em seus objetivos, mas o papel é meu espelho e não posso refletir nada além do que sou…
Claro que com educação eu nunca digo: “Seu sonho nunca vai acontecer”, porque no fundo eu gosto de ver quem sonha. Me lembra um lado mais profundo de mim, um que eu tenho falta. Sonho com coisas tão terrenas e simples que me torno completamente satisfeita com o que já tenho, e você pode pensar que isso deveria ser um conforto… mas não é. Porque no fundo não me sinto realizada. É como se eu tivesse uma vasta fazenda, plantasse e colhesse do mesmo todos os dias, é estável, me sinto saciada, mas uma hora eu enjoo de comer e colher o mesmo, me dá água na boca só de imaginar o que seria plantar macieiras alguma vez na vida…
O problema é que tenho medo de plantar macieiras e acabar colhendo laranjas. E isso definitivamente não é sobre árvores ou frutas.
Quando eu saio das águas profundas que a realidade me aprofundou e eu encontro um pouco de crença ou imaginação, eu encontro em alguém. O sonho de viver eternamente ao lado de alguém, do que vou fazer com esse alguém, de como nossos sentimentos vão florir, etc. Nunca confio em mim mesma quando o destino depende apenas de mim, porque normalmente está também nas mãos do destino ou terei que apoiar em meus próprios ombros, e sinceramente eu não sou a pessoa que mais me ama. Mas quando se trata de outro alguém… minha devoção, minha atenção, será intenso e se eu me decepcionar eu terei o conforto de não ter grandes consequências ou de ter estado ao lado de alguém em algum momento.
Talvez minha lucidez não seja esclarecedora, não, mas ela é um grande conforto. Uso dela para esconder minha fé em mim, no meu crédito a mim, em como eu acredito que tudo em minhas mãos pode desmoronar. Minha ignorância com os sonhos dos outros é inveja, pura vontade de ter chance e que não tivessem estragado as minhas. Digo como se soubesse de algo: “No futuro essa pessoa vai entender o quanto isso era impossível”, porque um dia eu mesma disse que eu nunca seria possível de nada.
Eu ouvia que a juventude me trazia aquele tipo de impulso incontrolável, um tipo de voz incessante que me levava aos meus sonhos. Ouvia que o jovem é sempre irracional, que tudo é novo. Quando tudo me parece estrategicamente pensado. Tudo já parece destinado. Caminho sob os mesmos caminhos que caminhei ontem e desejei as mesmas coisas que muitas vezes já disse que não deveria desejar. Sinceramente se eu pudesse fazer algo… Gostaria de me secar…
Ficar nas águas da lucidez me deixa com a pele enrugada, mais velha. Eu queria poder sair, me secar e respirar um pouco do ar. Um ar livre de cloro. Queria pular e saltitar. Queria sonhar não por desejar necessariamente que aconteça, mas pela chance de simplesmente me satisfazer sem nem mesmo realizar. Se sou tão desiludida assim isso não deve ser difícil, né? Me satisfaria facilmente com o mínimo.